sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Jardo é uma pequena aldeia muito pitoresca com um número reduzido de habitantes. Ainda que muito isolada existe um aglomerado habitacional cuidado com ruas calcetadas e recentemente viu melhorada as suas acessibilidades. Fica na encruzilhada entre o rio Côa e o Noemi.
(retirado do site da Câmara Municipal de Almeida)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Mas que belo Fadinho

domingo, 18 de outubro de 2009

(Texto retirado de umas páginas escritas pela Mãe Ermelinda e pelo Pai Zé)
Na margem esquerda do Rio Côa, entre giestas e carvalhos, no meio de imenso “chavascal de barrocos e matagal” e que pela sua pequenez demográfica sempre esteve anexa à freguesia de Porto de Ovelha, fica uma aldeia chamada Jardo, mas que sempre foi grande pela hospitalidade da sua gente que tão bem sabe receber quem a visita, abrindo as portas das suas casas e onde sempre houve um Copo de Vinho e pão com algum Peguilho, dando assim as boas vindas a quem chegava.
Não vou fazer investigações a grandes enciclopédias nem tão pouco à torre do Tombo, mas somente deixar aqui, para memória futura, as vivências das gentes que eu conheci na minha Terra Natal e as minhas recordações de infância que tanto contribuíram para o meu enriquecimento cultural e formação da minha personalidade.
Descobri nos meus Alfarrábios que a palavra Jardo significa:
- Espécie de tecido de lã de cor cinzenta;
- O mesmo que “Jalde” – Amarelo vivo, cor de oiro.
Seria alguma delas que deu o nome à aldeia?
Popularmente era conhecida por Cabo do Mundo porque quem nela entrasse tinha de sair pelo mesmo caminho, especialmente durante o Inverno, quando as cheias cortavam a passagem noutra direcção devido à sua situação na confluência de dois rios (o Côa e o Noémi).
Realmente, na Primavera, os seus campos vestem-se de um amarelo vivo cor de oiro com as flores das giestas e tojos, assemelhando-se a um jardim e, a sua gente sempre vestiu roupa de tecidos grossos e escuros.
Nesta aldeia, hoje quase deserta e que, segundo alguns, a sua sobrevivência está por um fio, viveu, ao longo de gerações, muita gente laboriosa que encheu todas aquelas casas, algumas delas em ruínas, mas que eu guardo na memória com bastante saudade.
E foi aqui que eu nasci em 26 de Agosto de 1942, numa casa pequenina no Cornelho que, apesar de a ter deixado com poucos anos de vida, pois mudámos para a actual casa d’Avó, mantenho-a viva na minha memória – Um rés-do-chão toscamente lajeado com uma pequena cozinha onde o fumo da lareira se esgueirava pelas frinchas do telhado. Uma escada de madeira dava acesso ao piso superior onde existiam dois quartos minúsculos em que a única luz que recebiam entrava por uma gateira virada para o Chão das Casas e que ainda hoje se mantém. Foi num desses quartos que eu nasci e, segundo dizem, tive a visita de uma cobra atraída pelo cheiro do leite materno.
Aí dei os primeiros passos, balbuciei as primeiras palavras e usei os primeiros brincos depois de o meu pai me ter furado as orelhas com um canivete.
Durante a minha vivência nesta casa não posso esquecer as minhas vizinhas e grandes amigas, a Maria Joaquina que eu chamava ternamente de Quina e a Purificação que me levavam com elas quando iam com as cabras e as ovelhas para o campo e me apanhavam molhinhos de canudos dos braceijos que eu depois chupava deliciada.
E aquele caldo de couves, partidas bem compridas e que só na casa delas eu comia com gosto, rejeitando aquele que a minha mãe lá ia levar para não sobrecarregar ainda mais aquela família onde, apesar de numerosa, havia sempre lugar para mim.
- OBRIGADO MINHAS AMIGAS!
Quanto mais analfabeto for o Povo, mais fácil será governá-lo”. Era o pensamento máximo de Salazar que durante 50 anos esteve à frente do destino deste País.
Pobres, despolizados e incultos, poucas possibilidades de sucesso restavam a esta gente. A agricultura era o seu único meio de subsistência e o rancho de filhos que fez parte de algumas famílias, outra finalidade não tinha a não ser conseguir mais uns braços para ajudar a trabalhar os campos que somente produziam o necessário para não se morrer de fome e onde o único anticonceptivo era a abstinência sexual ao qual os homens daquele tempo não se sujeitavam.
Cansados de tanto trabalhar e nada ter, os mais aventureiros deixaram para trás a Terra que os viu nascer, as casas tristes e escuras onde, por vezes, a única cama que existia era uma faxa de palha na corte dos animais. Partiram com o coração cheio de incertezas, uns para as grandes cidades (como Lisboa) e outros emigrando para o desconhecido onde os esperavam não melhores condições de vida, mas um melhor salário que pudessem dividir com a família que deixavam para trás.
Muitas vezes enganados pelos Passadores que, a troco de uma boa maquia, prometiam conduzi-los a bom termo, mas eram abandonados a meio do caminho e entregues à sua sorte. Poucos levaram mulher e filhos, pois esses ficaram na Terra labutando no campo e em casa.
Um elogio especial a essas mulheres que, como autênticas viúvas, foram pais e mães ao mesmo tempo durante anos a fio, esperando, muitas vezes, por quem acabou por nunca voltar.
Muitos por lá refizeram as suas vidas, outros regressaram e ali vivem com os euros das suas reformas que vão dando para sobreviver.
Talvez pelas más recordações da sua infância, a falta de recursos e o abandono a que a aldeia foi votada durante gerações, há quem nunca tenha revisitado a sua Terra e, da gente que encheu aquelas casas e ruas, sobrevivem hoje 9 resistentes que guardam pacientemente o descanso final a que todos têm direito.
Os sãos e amistosos costumes, a lealdade e o marcante carácter, as suas suaves e enternecedoras tradições foram-se perdendo. Desapareceram os fossos que separavam o virtuoso do patife, o honesto do ladrão, o sábio do charlatão, inverteram-se os valores e tudo se iguala, muitas vezes, pela mediocridade – É a igualdade social que os desenraizados, cépticos e pessimistas tanto apregoam.
Todas as usanças regionais estão a dar o último suspiro destruídas com os ventos da uniformização, igualdade e descaracterização soprados dos quatro cantos do Mundo.